terça-feira, 20 de novembro de 2007

Usina Nuclear Flutuante: Mais comentários sobre a engenhoca russa!

No dia 12/11/2007, assistindo ao Jornal Nacional da Rede Globo, me surpreendi com a notícia de mais um desastre ambiental causado por tempestades. “Um navio cargueiro se partiu e despejou cerca de 1.200 toneladas de óleo combustível no mar Negro, em mais um "desastre ambiental". Outras quatro embarcações também afundaram depois de atingidas por ondas de até 5,5 metros, durante a mesma tempestade, entre o mar Negro e de Azov [Fonte: Folha on-line]”.
Por: João Bosco Gertrudes(*)

Por ironia, ou coisa parecida, o navio cargueiro a que referia a manchete era de nacionalidade Russa, num momento em que Cabo Verde e Rússia discutem a possibilidade de instalação no nosso país de uma das suas inéditas unidades flutuante de produção de energia elétrica via fissão nuclear. Diante dos atuais fatos fatídicos a pergunta que não quer calar nesse momento é a seguinte: O que aconteceria se neste mesmo local estivesse instalado um dessas engenhocas Russas, denominadas de unidades de produção flutuantes? Eu particularmente, não sei. Se alguém souber favor se manifestar!

O “projecto piloto” da Usina Nuclear Flutuante que a Rússia insiste em oferecer a Cabo Verde foi desenvolvido com o objetivo nobre de abastecer cidades localizadas em sítios costeiros e remotos. Este projeto tem sido duramente criticado por grupos ambientalistas em todo o mundo. É comum encontrarmos frases referentes ao projeto do tipo: “Esperamos que os atomistas Russos venham a público, se explicar como a geringonça funcionará em caso de Tsunami, Furacão, Terremoto, Seqüestro, ataques terroristas, etc... ou no caso mais recente de tempestades cada vez mais freqüentes em conseqüência do inevitável aquecimento Global”. Não obstante, eles ainda insistem em vender o projeto como seguro e economicamente viável.

Sem, no entanto conhecer os detalhes técnicos e os motivos pelos quais eles garantem segurança total do empreendimento, prefiro como muitos, por uma questão de bom senso - e acima de tudo (assim como todo o caboverdiano), por uma questão de “querer o bem” do nosso país (porque lá estão os meus entes querido, amigos, a minha infância, etc) - questionar e ficar do lado daqueles que apelidam o projeto de “TITANIC-CHERNOBYL DO FUTURO”, ou ainda do lado de ambientalistas radicais da organização ambientalista Bellona que classificam o projeto de "ABSOLUTAMENTE DOENTIO".

Procurei informar-me na medida do possível - já que esse assunto não é especificamente a minha área de pesquisa - e diante de fatos novos, ou pelo menos de informações novas, já que detalhes do projeto só os Russos são detentores - vou de novo “opinar a respeito do assunto” e tecer alguns comentários sempre deixando claro que serei como muitos “uma pedra no sapato” daqueles que são a favor de que a “nuclear caixa branca” faça parte da nossa matriz energética. Como eu disse em um dos comentários a respeito do meu primeiro artigo sobre esse assunto, não me importa se o projeto está na berlinda, se vai ser concretizado o negócio, quem fez essa proposta, o que realmente importa é que se trata de um assunto que diz respeito a todos e deve ser tratado dessa forma.

No primeiro artigo de opinião versando sobre este tema (A moda agora é: Mini-central nuclear flutuante!), de forma assustada alertamos para que houvesse cuidado, carinho e cautela no trato desta questão quanto a segurança nacional do ponto de vista operacional e ambiental, quanto aos perigos advindos de decisões político-arbitrárias, quanto aos perigos advindos da comercialização privatizada de uma fonte de energia não totalmente segura (a história nos diz ...), quanto às pressões advindas da nossa crise interna de energia, e quanto as nossas pretensões ao nível do turismo.

Além disso, frisamos o fato de que era necessário no caso de optarmos por essa fonte de energia, se explicar para as nossas populações a respeito dos perigos da radioatividade de uma forma geral e da Flutuante em particular. Algumas dessas medidas foram realmente tomadas, como, por exemplo, encaminhar o projeto para análise de risco junto a Agencia Internacional de Energia Elétrica e as outras? Será que deverão influenciar na escolha ou não dessa fonte de energia? Se, por acaso, a AIEA aprovar o projeto quanto a “Segurança Operacional”- o que não me parece razoável diante dos fatos fatídicos recentes -será que os outros fatores serão determinantes na escolha ou não dessa fonte de energia para fazer parte da nossa matriz energética?

Gostaria de deixar claro que não é o objetivo deste texto, julgar o que está sendo feito, o que já foi feito e o que vai ser feito, mas sim expressar a minha opinião a respeito de um assunto que como já disse antes e deve ser do conhecimento de todos se tratar de um assunto de segurança nacional, portanto que diz respeito a todos os caboverdianos fora e dentro do território. A instalação desse tipo de empreendimento nos portos de Cabo Verde é realmente preocupante e assustador, em se tratando de um projeto-piloto em forma de “Caixa Branca”.

Os Russos prevêem grande demanda por esse tipo de solução energética, assegurada pela tendência de consumismo do “tudo pronto”. Segundo declarações do maior físico russo Yevgeny Velikhov. Segundo o próprio: “Será como encomendar um avião. Quer uma usina nuclear? é só encomendar!”. Seguindo essa linha de raciocínio eu diria que essa declaração é mais uma prova de que precisamos além de questionar se essa forma de energia é saudável para o arquipélago considerando as nossas pretensões turísticas, questionar energia nuclear sendo oferecido por empresas privadas e na forma de “Caixa Branca”.

O projeto além de realmente assustador, não é inédito - já que em 1968 os Estados Unidos puseram em andamento uma central flutuante no Canal do Panamá, mas a desmantelaram em 1976 devido ao alto custo da manutenção - e muito menos convincente do ponto de vista econômico: o preço por kWh hora seria de US$ 0,06, de acordo com o líder do projeto. Para se ter uma idéia usinas a gás produzem energia por US$0,02/kWh. US$ 0,06/kWh é o preço que eles usam para promoção do projeto. Porém nesse preço eles não incluem os custos de seguro, segurança ou remoção do navio nuclear depois de sua vida estimada em 40 anos, e nem apresentam uma solução convincente a respeito destino do LIXO ATÔMICO, um dos problemas maiores.

Não se falou mais a respeito dessa alternativa para Cabo Verde (pelo menos não nos mídia que acompanho), o que é preocupante. Esperamos que isso seja seriamente discutido no Fórum de reflexão sobre segurança energética, energias renováveis e desenvolvimento promovido pela Rede de Parlamentares para o Ambiente, Luta Contra a Desertificação e a Pobreza (RPALCDP) da Assembléia Nacional, que decorre na Praia a partir dessa Segunda Feira (12/11/2007), e que haja de fato uma posição transparente para a sociedade civil como um todo a respeito desse projeto e de outros que envolvam questões como meio ambiente e segurança social, e a questão energética está necessariamente vinculada a esses quesitos.

Acredito que devemos esgotar todas as nossas possibilidades de aumentar a nossa matriz conhecendo e aproveitando todas as nossas potencialidades energéticas renováveis, implementando políticas de uso racional (Uso Racional de Energia: Uma ALTERNATIVA inteligente!), e se realmente for necessário e premente pensarmos na nuclear como opção, mas não optando por projetos pilotos, sem referencia internacional de mercado.

[Falando nisso] Para quando a instalação dos parques eólicos prometidos para as ilhas de São Vicente, Sal e Santiago que totalizariam os inéditos 25% da energia consumida no país? Esperamos que essa iniciativa louvável e outras do gênero visando o aproveitamento das renováveis sejam de fato e urgentemente implementadas. Convém também salientar que é notório e saudável, o envolvimento da sociedade civil caboverdiana, Governo e entidades em torno dessa questão energética, que se não resolvida inevitavelmente servirá de freio ao crescimento econômico do país em curto prazo.

Entre as actuais medidas emergenciais divulgadas nos mídia, convém destacar a modernização e “re-pontencialização” da rede elétrica - por enquanto a rede da Praia, regularização e regulamentação das “perdas clandestinas” e a aquisição de novos grupos geradores, aumentando dessa forma a potência instalada e de longo prazo a campanha de “Poupança de Energia” - Os resultados dessa nova alternativa energética virão em longo prazo e dependerá do envolvimento das entidades e sociedade civil. Embora os grupos geradores adquiridos e em vias de aquisição junto ao BAD tenham combustíveis fósseis como força motriz - o que seria entendida por muitos como uma medida na contra-mão das nossas pretensões de diminuir a dependência dos fósseis, compreende-se essa “manobra” como uma medida de emergência visando por cobro aos atuais “apagões”, mas não deverá ser política energética de longo prazo. Além disso, hoje existe disponível no mercado a tecnologia de motores Flexíveis, uma realidade na indústria automobilística e que pode ser também aproveitado para “flexibilizar” os nossos já adquiridos Grupos Geradores e adequá-los para funcionar com a melhor opção em termos econômicos e ambientais de combustíveis disponíveis no mercado.

[Voltando ao Assunto] Finalmente gostaria de terminar com uma questão a respeito da flutuante: Que milagre aconteceu no projeto deles para que seja tão rentável e seguro em relação ao projeto desativado pelo EUA em 1976, que inegavelmente é um dos países mais avançados do mundo em termos de tecnologias?

(*) Universidade Estadual de Campinas-UNICAMP Faculdade de Engenharia Elétrica e Computação Depto. de Sistemas e Controle de Energia C. P. 6101 13081-970 Campinas - SP - Brasil Tel.: (+55.19) 3521.3710 ramal 10246 Cel.: (+55.19) 8101.9981 E-mails: jbosco_cv@yahoo.com.br; jgertrudes@hotmail.com

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