terça-feira, 16 de outubro de 2007

INSUFICIÊNCIAS DA ELECTRA



Uma empresa da envergadura da Electra não pode continuar eternamente a controlar os gastos de energia mensalmente através dos leitores, andando de casa-em-casa, sob todo o tipo de perigo que lhes passa acontecer, das promessas de negociatas que lhes poderão ser feitas, enfim pode constituir-se numa rede de corrupção, de forma generalizada, com prejuízos imprevisíveis para a empresa, sendo os consumidores os maiores prejudicados


Electra, empresa cabo-verdiana com monopólio de distribuição de dois bens essenciais – água e energia eléctrica. Água, bem que não pode faltar a qualquer sociedade, sob pena de perda de vidas, tanto humanas como animais e vegetais. Nos dias de hoje, época tecnológica, a energia eléctrica também ganhou grande importância, apesar de ser de menor necessidade que água.

Insuficiências de carácter técnicas

Apesar de, ao longo dos tempos, ter-se constatado, periodicamente, cortes de energia eléctrica nos diferentes pontos do País, por uma ou outra razão, nos últimos tempos têm-se verificado, principalmente na Praia, Capital do País, apagões constantes atingindo vários bairros ao mesmo tempo, para não se dizer apagões generalizados em todo o território municipal.

Tenho dito, um pouco a brincar, que enquanto o problema é falta de luz desenrasca-se com velas, mas quando se passar por falta de água, aí torna-se bicudo, porque ninguém consegue viver sem esse produto. E isso já está a acontecer em alguns bairros da capital, em que a água sai das torneiras amarelada de ferrugem, utilizada apenas para descarregar a sanita, uma vez que se tem dúvida da sua utilização mesmo para lavar as mãos, quanto mais para outras utilidades.
A juntar as insuficiências apontadas por Júlio Lopes no Cifrão do Jornal asemana do dia 05/10/2007, vou apontar mais algumas, do meu conhecimento, que considero de extrema gravidade: casos de bairros que se expandiram/expandem de forma espontânea, cuja distribuição de energia eléctrica é feita de forma clandestina, passando os fios-condutores de casa-em-casa via aérea ou subterrânea, tendo causado vários acidentes, muitas vezes fatais. De igual modo, conheço casos de residências nos supracitados bairros em que a energia eléctrica chega tão impotente suportando apenas uma lâmpada. Quando se tem de abrir um aparelho de TV, desliga-se a lâmpada e vice-versa. O mais caricato é que a distribuição da energia nessas condições não é feita de forma gratuita, paga-se uma taxa mensalmente ao fornecedor (vizinho), que também recebe energia de um outro vizinho nas mesmas condições.

Insuficiências administrativas

Além das insuficiências de ordem técnica, há também outras de ordem administrativa: houve um caso que se passou comigo, há cerca de três anos, numa residência no bairro de Terra Branca, em que havia um tubo-condutor de água danificado, sendo o desperdício do liquido de tal monta insuportável, dado que o desperdício era registado no contador. Tendo recusado pagar as contas de água (mesmo liquidadas as de energia eléctrica), em vez de me ser cortado água, foi cartada energia eléctrica, justificando que a empresa presta esses serviços conjuntamente, por isso se há problema relativo a qualquer um deles, corta-se a luz que é mais fácil, como forma de se resolver a questão. Neste caso, fiz a religação - pessoalmente por não estar em divida com luz - e nunca mais se apareceram para resolver o problema, pelo menos enquanto estive residindo naquele apartamento.

Conheço um outro caso muito recente de um prédio em Palmarejo (onde resido há dois meses) que há muito tempo foi instalado energia eléctrica e água, em que os respectivos contadores não coincidiam com os apartamentos, criando constrangimentos no pagamento por parte dos inquilinos. Por causa disso, como justificou a proprietária, um inquilino saiu da casa deixando uma grande divida desses bens, remontando o ano de 2005, imaginem!
Na expectativa de resolução do problema, a proprietária deslocou-se à empresa, com toda a honestidade, para informar sobre a situação, pedir para fazer a correcção na distribuição dos contadores e negociar o pagamento da divida de forma faseada (quando a culpa não era propriamente dela. Era, em maior parte, da Electra que não terá cumprido o contrato no que diz respeito a cortes de fornecimento de energia eléctrica e água, por atraso no pagamento). Para o espanto da mesma, quando regressou encontrou a casa já com luz cortada. Sem entender tal comportamento da Electra, preocupada com a situação de os inquilinos ficarem às escuras, acelerou o processo, pagando as dívidas acumuladas (não por ela) para poder ser religado a luz. Algumas questões se colocam: se ela não tivesse dinheiro para parar as dívidas, ficaria a casa sem luz, tendo ela procurado honestamente os serviços (que talvez nem sequer sabiam da dívida) para negociar o pagamento? Se ela não fosse à empresa informar e negociar a divida, a casa seria cortada luz? Então, o que será melhor - os proprietários informarem e negociarem as dividas ou ficarem de boca calada, deixando a empresa em prejuízo? Se ela não se preocupasse com os inquilinos e enveredasse por outra via – a de tratar dos seus direitos consagrados na lei -, será que a Electra não correria o risco de indemnizá-la pelos prejuízos causados, por essa medida imediatista?

Esses são pequenos casos, que ilustrem o que realmente se passa com a Electra nessas ilhas, que carecem de reparos urgentes, para o bem da mesma, em particular, e dos consumidores, em geral.

Visão de soluções futuras

Do meu ponto de vista, a Electra padece de uma visão estratégica, cujos objectivos serão atingidos a longo prazo. Essa estratégia terá de passar impreterivelmente pelo investimento na tecnologia, assim como tem feito outras empresas, exemplo da Telecom.

Uma empresa da envergadura da Electra não pode continuar eternamente a controlar os gastos de energia mensalmente através dos leitores, andando de casa-em-casa, sob todo o tipo de perigo que lhes poçam acontecer, das promessas de negociatas que lhes poderão ser feitas, enfim pode constituir-se numa rede de corrupção, de forma generalizada, com prejuízos imprevisíveis para a empresa, sendo os consumidores os maiores prejudicados.

O investimento deverá passar, primeiro pela selecção e formação de um conjunto de fiscais sérios, rigorosos, com espírito de labuta, que não permite desvios de energia nos postos e nem cedência (?) da mesma aos vizinhos, segundo por investir nas novas tecnologias, em que os gastos das residências, assim como os possíveis desvios de energia serão controlados através de um computador numa central. A partir daí, a empresa negoceia/determina um prazo para o pagamento. Quem não o cumprir será punido com corte e pagamento de uma taxa de religação, para além dos acréscimos de juros de mora.

Os cortes não podem continuar a ser feitos com alicates como tradicionalmente se faz, mas sim através de um computador programado para o efeito, na referida central. Em vez do Governo continuar a injectar dinheiro para tapar buracos pontuais, como o que aconteceu dias atrás, deverá incentivar, projectar e mobilizar financiamento para apoiar esse tipo de investimento, sendo o accionista maioritário.

Bem haja luz e água, para todos.
Caboverdianamente.


Praia, 05/10/007
Publicado no asemana em 10/10/2007

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