sexta-feira, 26 de outubro de 2007

SOCIEDADE DE INFORMAÇÃO - DESAFIO PARA O MUNDO RURAL CABOVERDIANO - O CASO DE SANTO ANTÃO

O artigo que ora estou a apresentar, tenta demonstrar - em meu entender - um pouco das questões fundamentais que se colocam ao mundo rural cabo-verdiano concernente à tão propalada “Sociedade de Informação”, mais concretamente relacionadas com as vantagens advenientes que se podem obter da utilização das N.T.I. (Novas Tecnologias de Informação), podendo mesmo tomar isso como um factor de coesão social e de desenvolvimento, tendo em conta que poderá contribuir para se ultrapassar alguns constrangimentos de que padecem determinadas populações residentes em zonas muito isoladas, encravadas ou distantes dos centros de decisão político-institucional.

- CASO VERTENTE de CABO VERDE -Especificidade do Fenómeno N.T.I., para S. ANTÃO

No caso vertente de Cabo Verde, esta situação é ainda mais gritante, face à realidade concreta da maior parte das nossas gentes viverem em ilhas montanhosas, onde não raramente se encontram populações praticamente isoladas do resto do Mundo, com as consequências daí decorrentes, em termos de informação a todos os níveis.
É nesta ordem de ideias que o articulista - mesmo sendo leigo no assunto - tenta emitir a sua opinião sob forma de ensaio, visando dar a sua modesta contribuição nessa matéria, em prol de uma vivência mais realista e integral das nossas populações, sob o ponto de vista da informação global para um desenvolvimento sustentado, caso vertente de S. Antão, a ilha do fascínio e da aventura por excelência, em Cabo Verde.
A dinâmica emergente que é fruto daquilo a que se convencionou chamar de “Sociedade de Informação”, alicerçada sobre o conhecimento e a comunicação humanas, contém, em si mesmo, vestígios de uma cultura e economia, com fronteiras ainda muito pouco perceptíveis.
No entanto, as perspectivas que se visualizam para o meio rural cabo-verdiano, como consequência directa das novas tecnologias de informação e comunicação (N.T.I.), deveriam ser consideradas como desafios promissores, na medida em que podem contribuir para contradizer alguns estrangulamentos relacionados com o encravamento e difíceis acessibilidades das referidas zonas, as quais carecem de oportunidades de modernização e inovação.
Com essa análise muito simplese, cremos nós que importa, pois, equacionar determinadas vantagens que a vulgarização destas tecnologias pode implicar para o mundo rural cabo-verdiano, não se esquecendo, jamais, que grande parte dos seus problemas provêm da reestruturação do contexto económico e social geral - a nossa controversa globalização - que, por sua vez estão relacionados com a crise económica mundial, a carência de recursos humanos e institucionais, a inexistência de uma dinâmica empresarial e desqualificação de muitas de muitas das actividades aí desenvolvidas.
Para a cientista social portuguesa Maria do Rosário Serafim “ .... a ausência de infra-estruturas de telecomunicações em banda larga, o baixo nível de escolaridade e a fraca abertura às inovações, requisitos importantes da Sociedade de Informação, são as causas que originam que muitas zonas rurais fiquem fora dessa dinâmica ...”
Contudo, se muitas interrogações poderão ser levantadas, relativamente a esta nova forma de economia, outras tantas perspectivas optimistas também deverão ser levadas em devida consideração, como sendo vantajosas e benéficas, quando se utiliza a tecnologia digital nas zonas rurais, encurtando distâncias e tempo, permitindo alcançar uma outra territorialidade pela virtualização crescente do mundo económico e sócio-cultural, configurando uma outra vivência ao (s) local (s) abrangido (s) com essas N.I.T.
Será a Sociedade de Informação um Real Desafio para o Desenvolvimento Sustentado das Comunidades Rurais ?
De acordo com o semanário “AGENDA da REDE, “as preocupações nesta matéria já foram ventiladas pelos peritos da Comissão Europeia, sobretudo por aqueles que trabalham em contexto de desenvolvimento local, acerca do uso público das novas tecnologias, destacando que a concepção e desenvolvimento de centros de acesso às NTI, deverá obedecer muito mais a uma lógica de uso do que ao mero fornecimento de informações empacotadas.
Consequentemente, torna-se um imperativo crucial a existência de uma articulação verdadeiramente funcional entre os Serviços e Instituições em detrimento da criação de novos centros de informação, bem como ter sempre presente o trabalho dos animadores locais, extensionistas rurais e animadores sociais, cujas competências, de âmbito estritamente técnico e relacional, podem proporcionar maior capacitação técnica dos cidadãos, permitindo, assim, que estes se actualizem e acompanhem as inovações tecnológicas, para além do mero uso do computador e da Internet.
Este aspecto é, actualmente, fundamental para as zonas rurais, pois deixa em aberto, todas as potencialidades das tecnologias de informação e comunicação, sobretudo, no que tange à satisfação das necessidades das populações nos mais variados domínios: Educação (formação à distância), na Saúde (tele-medicina): Administração e Finanças Públicas (acesso aos Serviços, através da Internet), entre outros.
Para o técnico informático português Mário Fidalgo, “ .... a utilização das novas tecnologias deverá ser encarada, de frente, tanto na vertente da própria entidade, como também na melhoria dos serviços prestados às populações, particularmente do meio rural, onde esse fenómeno deveria merecer a máxima prioridade das prioridades pelos decisores político-institucionais... “

- CASO VERTENTE de CABO VERDE -

Nessa matéria, muito já se fez em Cabo Verde, visando disponibilizar ao cidadão, em geral, as ferramentas básicas da utilização das N.T.I.C. (Novas Tecnologias de Informação e Comunicação), particularmente logo após a criação do N.O.S.I. (Núcleo Operacional da Sociedade de Informação), o que merece um louvor de todo o povo cabo-verdiano, ao actual Governo, por tal acção, sobretudo se levarmos em linha de conta, os resultados muito encorajadores já alcançados.
Todavia, não obstante todo o esforço do executivo cabo-verdiano - aliado à extraordinária iniciativa do mesmo, na criação de diversos tele-centros, em quase todos os concelhos do País - muita coisa ainda está por definir e/ou por concretizar com o novo paradigma de desenvolvimento sustentado e integral que se almeja, para o povo destas Ilhas.
Especificidade do Fenómeno N.T.I., para S. ANTÃO
Para o caso vertente de Santo Antão, dada a sua especificidade real, a aplicação prática do aludido processo é bastante complexa e não depende somente da implementação massiva ou não destas N.T.I.C., em toda a Ilha.
Senão, vejamos o que pensa um célebre técnico, em matéria da natureza geo-morfológica da Ilha, citado pelo geógrafo Manuel Mota, nestes termos:
A geo-morfologia da ilha está fortemente condicionada pela sua natureza vulcânica, pelas formações litológicas dominantes, além de que é de considerar o clima como factor determinante nos processos erosivos antigos e actuais. Após a última fase vulcânica, a ilha apresentava um perfil transversal bem mais regular do que o actual, ressaltando a parte central, a constituir uma ampla plataforma planáltica de 33km de extensão no sentido E-W e de altitudes médias de 1000/1500 metros, da qual se erguiam numerosos cones vulcânicos, alguns muito salientes como o Tope de Coroa, o ponto mais alto da ilha, a 1980 metros de altitude. Neste caso, circundam a superfície planáltica central, duas grandes vertentes, a do lado setentrional, nomeadamente inclinada para o mar e que a rede hidrográfica tão profundamente tem vindo a entalhar, e a do lado meridional, inicialmente de inclinação moderada para gradualmente se resolver em aplanação litorânea de inclinação suave. Por sua vez, dos lados leste e oeste as respectivas vertente, de pendor excessivo, lançam-se bruscamente para o mar” (Diniz et all., 1999. pg3).
Somos em crer que somente com a leitura deste trecho impressivo, do autor atrás citado, poder-se-á ter uma ideia da situação real da Ilha, antes de se posicionar na tomada de qualquer decisão, em termos técnicos, no tocante à implementação de N.T.I.C., ou qualquer outra actividade humana, visando o desenvolvimento sustentado de Santo Antão.
Nesta ordem de ideias se poderá compreender que não tem sido tarefa tão fácil para a “TELECOM” nem tão-pouco para a “ELECTRA” ¬- empresas com maior potencial de serviço público - expandir a sua rede de acção, a determinadas zonas encravadas como, por exemplo, Santa Isabel e Estança de Pedras (concelho do Paul), Figueiras e Ribeira Alta (concelho da Ribeira Grande) e, em certa medida, Tarrafal de Monte Trigo e 1º povoado de Alto-Mira (concelho do Porto Novo), respectivamente, devido às dificuldades de ordem geo-morfológica, inerentes à realidade natural da Ilha.
Muito embora um leque variado de iniciativas tenham contribuído para a melhoria do meio rural santantonense, através de planos integrados e multi-funcionais, estas medidas jamais poderão considerar-se suficientes se a elas não estiverem acopladas uma política de capacitação e auto-formação das populações locais, base sobre a qual se devem edificar todas as transformações que se pretende operar ao nível do desenvolvimento rural durável e sustentado, para a “ilha da magia e do êxtase natural”.
Assim sendo, a “Sociedade de Informação”, considerada como um desafio crucial para as zonas rurais de Cabo Verde, em geral, e para S. Antão, em particular, pelas oportunidades e vantagens que se configuram no actual contexto de crescimento económico e social do País, deverá ser encarada como um imperativo incontornável, a ser levado em devida consideração.
Mais uma vez, a cientista social portuguesa Maria do Rosário Serafim alerta-nos para este fenómeno da seguinte forma: “Acelerando-se o processo de globalização económica, cultural e social, pelo efeito do uso da tecnologia, só poderá haver Progresso se este crescer com respeito pelas identidades culturais, se preservar memórias, se respeitar a biodiversidade dos territórios, se desenvolver o tecido económico-social, promovendo bens e serviços úteis e necessários visando eliminar, gradualmente, os seus constrangimentos estruturais”.
Em síntese, poderemos afirmar que, - com o devido respeito pela opinião contrária - a “TECNOLOGIA”, por si só, nada garante para um real desenvolvimento de uma comunidade. Nem desenvolvimento, nem autonomia, os quais só se conseguem adquirir pela vontade e acção humanas e, com a forte convicção de que vale a pena ousar fazer sempre algo pela nossa gente, pois acreditamos num futuro melhor, sobretudo para as gerações vindouras.
A terminar, gostaria de expressar aqui a minha preocupação e, ao mesmo tempo o meu optimismo em que esta nova sociedade de informação, enquanto nova alternativa instrumental e comunicativa, venha a ser considerada como sendo uma imensa sabedoria contida na nossa experiência de vida e a valorização de todo um capital humano, orientado para uma responsabilidade social e participação cívica de todo o cabo-verdiano, no desenvolvimento sustentável do mundo rural destas ilhas solitárias, perdidas na imensidão do Atlântico, à espera de um dia serem, verdadeiramente Cabo Verde, com o verde da esperança, no horizonte promissor.
Santo Antão, aos 01 de Setembro de 2007.
Por: Carlos Alberto Fortes

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